DOM JOÃO
CARLOS BULCÃO
POR MERCÊ
DO CORAÇÃO SACRATÍSSIMO DE CRISTO
BISPO DE OVERLAND-MONTE CARLO
CATEQUESE SEMANAL VIII
A JORNADA INTERIOR TEOLÓGICA
DOM JOÃO
CARLOS BULCÃO
Overland, Amazônia, catorze de janeiro de 2023.
1. Hoje refletiremos sobre
a “jornada interior teológica”, um percurso profundo que cada criatura humana é
chamada a realizar em sua busca pelo entendimento de Deus. Este termo foi me inspirado
numa certa conversa que tive esta manhã; significa um caminho espiritual ao
nosso interior para conhecer Deus, após deixarmos que ele faça morada em nosso coração.
Neste caminho, descobrimos que só podemos verdadeiramente conhecer a divindade
através do amor e da experiência direta de Seu amor por nós.
Só podemos conhecer Deus,
amando e provando seu amor.
2. Ao abordarmos a jornada
interior teológica, a primeira verdade que nos ilumina é que o conhecimento de
Deus está intrinsecamente ligado ao amor. Não é por meio de meras especulações
intelectuais ou argumentações sofisticadas, mas sim através da experiência
íntima do amor divino em nossas vidas. Santo Agostinho, em suas Confissões,
expressa esse princípio de forma poética e profunda quando afirma: "Ama e
faz o que quiseres. Se te calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com
amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com
amor."
3. Essa sábia orientação
de Santo Agostinho nos mostra que a jornada interior teológica não é uma busca
intelectual fria e distante, mas sim uma jornada do coração. Amar a Deus e
permitir que Seu amor nos envolva é o caminho para desvendar os mistérios divinos.
O Catecismo da Igreja Católica, em sua seção sobre a oração, ressalta a
importância desse encontro amoroso ao afirmar que "a oração é a elevação
da alma a Deus ou o pedido a Ele dos bens convenientes" (CIC 2559). A
oração é, portanto, uma expressão genuína de nosso amor por Deus e uma via para
experimentar Sua resposta amorosa.
Para conhecer Deus não
precisamos procurá-lo fora, mas dentro de nós.
4. A segunda verdade que
emerge em nossa reflexão é que Deus não está distante, exigindo uma busca
externa incessante. Pelo contrário, Ele reside em nós e anseia por uma morada
em nossos corações. São Paulo, em sua carta aos Coríntios, nos lembra desse
aspecto íntimo da relação com Deus ao afirmar que somos "templo do
Espírito Santo" (1 Coríntios 6:19). Essa ideia é reforçada no Catecismo da
Igreja Católica, que nos ensina que "o homem é capaz de Deus" e que
"o desejo de Deus está inscrito no coração do homem, porque o homem foi
criado por Deus e para Deus" (CIC 27).
5. Assim, a jornada
interior teológica é, antes de tudo, uma jornada para dentro de nós mesmos,
para os recônditos de nosso ser onde Deus escolheu habitar. O silêncio e a
interioridade se tornam aliados nesse processo. Na tradição monástica, por
exemplo, a contemplação silenciosa é vista como uma maneira eficaz de se
conectar com o divino que habita em nosso interior. Através do silêncio,
permitimos que a voz de Deus ecoe em nossos corações, guiando-nos na
compreensão mais profunda de Sua presença em nós.
A Teologia sem o Amor é
somente argumentação.
6. A terceira e crucial
verdade que emerge em nossa catequese é que a teologia desprovida de amor é
mera especulação intelectual. Não é suficiente argumentar sobre Deus sem
vivenciar e expressar amor por Ele. O apóstolo Paulo, em sua carta aos
Coríntios, afirma que mesmo que possuísse todo o conhecimento, mas não tivesse
amor, nada seria (1 Coríntios 13:2). A teologia autêntica, portanto, deve ser
impulsionada e permeada pelo amor.
7. O Catecismo da Igreja
Católica, ao falar sobre a teologia, destaca a importância do amor ao afirmar
que "a fé e a caridade devem unir-se, de modo que se entenda a doutrina da
fé, à luz da razão iluminada pela caridade" (CIC 184). Aqui, a caridade,
que é outra palavra para o amor, é colocada como a luz que ilumina a
compreensão da fé. A teologia, quando vivenciada no contexto do amor, não é
apenas um exercício intelectual, mas um encontro amoroso com o Deus vivo.
10. Ao unir esses
princípios, percebemos que a jornada interior teológica é, em última análise,
um movimento em direção ao coração de Deus, através do amor, da oração
silenciosa e da vivência da teologia iluminada pelo amor divino. Ao nos
aprofundarmos nesse caminho, somos convidados a uma intimidade cada vez maior
com o Criador, descobrindo Sua presença não apenas como uma ideia abstrata, mas
como uma realidade viva e transformadora em nossas vidas.
11. Portanto, queridos
irmãos e irmãs, que possamos empreender com fervor e humildade essa jornada
interior teológica, onde o amor seja o guia e a linguagem que nos conduzirá à
compreensão mais profunda de Deus. Que a oração silenciosa nos permita ouvir a
voz suave do Espírito Santo, que habita em nós, e que a teologia seja sempre
permeada pelo calor do amor divino. Que, ao final dessa jornada, possamos
exclamar com Santo Agostinho: "Ó beleza sempre antiga e sempre nova, tarde
te amei!"
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